CC Magazine: Entrevista Sérgio Abreu
 

Entrevista Sérgio Abreu




Dados biográficos: Sérgio Manuel Freitas Abreu (16.05.67)
Iniciação: Matra Racing e AD Fafe.
Sénior: AD Fafe, FC Tirsense, SC Braga, CD Santa Clara, GD Chaves, SC Freamunde, Leixões SC, FC Felgueiras, FC Lixa.


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Apenas um ano após o Mundial de Inglaterra, em que a nossa Selecção brilhou com um excelente 3º lugar, o nosso país sofria uma primeira acção da LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária) quando a 17 de Maio se dá o Assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz. A 24 de Janeiro, o Forte de São Sebastião em Angra do Heroísmo, é classificado como Imóvel de Interesse Público e lá fora, mais concretamente em Aberdeen (Washington), nos Estados Unidos da América, nascia Kurt Kobain.

No futebol, nomeademente em Portugal, o SL Benfica voltou aos títulos e o Vitória de Setúbal venceu a Taça de Portugal. A nível europeu, o Celtic venceu o seu única título e Eusébio começava a sua senda, para vir a ser o primeiro “Bota de Ouro” europeu, ao apontar 43 golos no campeonato nacional de 1967/68.

Em Bezons, no norte de França e a 16 de Maio, nascia  Sérgio Manuel Freitas Abreu. Sérgio Abreu passou pelo Fafe, FC Tirsense, SC Braga e Santa Clara no nosso principal campeonato, onde fez mais 300 jogos.

Entrámos em contacto com o Sérgio Abreu, de forma a nos conceder uma entrevista, ao qual de imediato nos respondeu afirmativamente.




Cromo dos Cromos: O Sérgio nasceu em França, correcto? Com que idade chegou a Portugal?

Sérgio Abreu: Nasci em França, os meus pais eram emigrantes e ao fim de 25 anos decidiram voltar para Portugal. Como tinha 14 anos, voltei com eles e minha irmã mais nova.


CC: Depois de em França, ter feito parte da formação (Matra Racing), chegou a Fafe. Seria em Fafe que se viria a estrear na 1ª divisão, pela mão de José Rachão. Como recorda essa primeira época, no nosso principal campeoanto?

Sérgio Abreu: Fiz a minha formação no Matra Racing em França até aos 14 anos. Depois quando voltei fiz 2 anos nos juvenis do Fafe e dois de juniores. Ainda acabei por jogar algumas épocas como sénior na 2ª Divisão Zona Norte no clube e devido ao “caso Famalicão”, acabámos por participar na 1ª Divisão na época de 1988/89. Para mim, recordo essa época como o início do que viria a ser uma carreira bonita na 1ª divisão e que guardo na memória, como sendo a única época (infelizmente) do Fafe, na principal divisão do futebol português. Fui dos poucos fafenses a representar, juntamente com o Gomes, o clube na 1ª divisão.




CC: Estreou-se no Bonfim, frente ao Vitória, com uma derrota por 4-0. Não foi a estreia que por certo desejava, não é?

Sérgio Abreu: Sim, era difícil fazer melhor naquela altura, porque estávamos a preparar-nos para a 2ª divisão e de repente fomos incluídos na divisão principal. Lembro-me que estávamos a treinar em Fafe numa sexta-feira e tivemos que ir nesse dia à tarde para Setúbal (jogámos no dia a seguir). Foi chegar e perder por 4-0. Só que o Vitória de Setúbal tinha uma “super-equipa”, com jogadores como: Jorge Martins, Jaime, Aparício, Manuel Fernandes, Jordão, entre outros. Não era a mesma coisa, jogar na 1ª ou na 2ª divisão. Na altura, havia mais diferenças do que há hoje.


CC: E do seu primeiro golo, recorda-se? Estádio de Alvalade, de cabeça a cruzamento da direita, Sérgio bate Vítor Damas e abre o marcador aos 28 minutos. Foi o seu primeiro e único golo no campeonato, mas por certo inesquecível, não? 

Sérgio Abreu: Sim, foi de cabeça. Cruzamento do Zé Albano, antecipei-me ao Venâncio e fiz um golo ao MONSTRO das balizas portuguesas, na altura, VÍTOR DAMAS. Foi, como podem perceber, um orgulho enorme estar a representar o meu clube do coração e fazer o meu primeiro golo, num estádio cheio e logo contra um grande de Portugal. Se não me engano, foi o último golo que o falecido Damas sofreu em Alvalade.


CC: O Fafe viria a descer de divisão, mas o Sérgio ainda faria 31 jogos, nada mau para época de estreia no principal escalão, não foi?

Sérgio Abreu: Sim e não fiz a totalidade dos jogos devido a estar na tropa (em Chaves) e não poder treinar regularmente. Mas vinha sempre à sexta-feira, treinava dois dias e jogava ao domingo. Como era novo e cheio de vontade, supria a falta de treino com uma vontade de mostrar o meu valor, o que fazia com que os treinadores da altura (Rachão primeiro e o Manuel Oliveira - grande senhor do futebol - depois) acreditarem mais em mim, do que nos colegas que treinavam todos os dias. Nessa época descemos, num campeonato de 20 equipas. Ficámos a um ponto do Beira Mar. Se tivéssemos entrado no campeonato logo no início, e se o Sr. Manuel Oliveira tem vindo mais cedo, se calhar o Fafe, teria ficado na 1ª divisão. Até porque na segunda volta, fomos a equipa, tirando o FC Porto e o SL Benfica, que fez mais pontos.




CC: Na época seguinte muda-se para Santo Tirso. O Tirsense comandado pelo Professor Neca, faz uma bela temporada ficando em 9º lugar. O Sérgio volta a fazer 31 jogos e marca 3 golos. Foi fácil a adaptação ao clube?

Sérgio Abreu: Sim, fui pela mão do Professor Neca, que já tinha sido meu treinador no Fafe. A adaptação foi fácil. Era um clube igual ao Fafe, com boas condições para um clube que tinha subido naquele ano e que cumpria com tudo que prometia aos seus jogadores, o que naquela altura era como ponto de honra e facilitava. Tínhamos um grupo muito unido com bons jogadores como: Lúcio, Louro, Zé Maria, Eusébio, Quim (ex-FC Porto). Nessa época fui o melhor marcador da equipa, juntamente com o avançado Alain (ex-Beira Mar), com três golos cada e ainda fui eleito pelos sócios do Tirsense, como a revelação do clube.


CC: O Sérgio parecia destinado a marcar nos grandes jogos, visto que um dos três golos que apontou no campeonato, foi frente ao Benfica, no empate 1-1, no Abel Alves Figueiredo. Lembra-se desse golo?

Sérgio Abreu: Sim, muito bem, estava a chover bastante, o estádio Abel Alves Figueiredo estava cheio (está ainda uma foto na sede do clube desse jogo). Foi um golo também de canto. O Quim marcou e eu antecipei-me ao Aldaír e fiz golo de cabeça ao Silvino. O Benfica (nesse ano sagrou-se campeão) acabou por empatar o jogo, já depois da hora pelo César Brito. Lembro de ir pela primeira vez a uma conferência de imprensa depois de um jogo, porque antigamente não havia tanta TV, só havia o "Domingo Desportivo", onde passavam 3 a 4 minutos dos resumos dos jogos e aí,  o Senhor Sven-Göran Eriksson, deu-me os parabéns pelo jogo que fiz. Para mim, foi um enorme orgulho o elogio feito por um senhor que viria a tornar-se, um dos melhores treinadores da sua geração.




CC: Em 1990/91, ainda em Santo Tirso, volta a fazer mais de 30 jogos e ser regularmente titular, mas o FC Tirsense, num campeonato com 20 clubes, acaba por descer. Foi uma época difícil?

Sérgio Abreu: Foi, porque tínhamos melhor plantel que na época anterior, com reforços como: Nascimento, Caetanto, entre outros e quando faltavam 4 jornadas para o fim, estávamos, depois de ganhar em Braga, a 1 ponto da Europa, mas também a 2 pontos da descida. Estava um campeonato super-equilibrado, e lembro-me que o Professor Neca, era dos treinadores, que mas valia ter um ponto que nenhum e naquela altura, fez com que aquela vitoria em Braga nos tenha feito virar atenções para o principal objectivo (a manutenção). Nos 4 últimos jogos tínhamos que somar 2 pontos para não descer. Infelizmente, só conseguimos fazer 1 e mais uma vez, num campeonato com 20 equipas, desci de divisão, com os mesmo pontos que o Penafiel (tinham vantagem sobre nós no confronto directo). Pena porque aquelas pessoas (sócios e directores da altura) não mereciam aquilo.


CC: Mas o Sérgio não acompanha o FC Tirsense para a 2ª Divisão. Como surgiu a oportunidade de rumar a Braga?

Sérgio Abreu: Na altura, não haviam muitos empresários como agora, os jogadores eram vistos ao vivo e o treinador do SC Braga na altura (Carlos Garcia) veio ver vários jogos do Tirsense com o director António Duarte. No final da época veio falar comigo e com o Eusébio para ver se estaríamos receptivos a representar o SC Braga. Fomos na altura os dois para Braga, o que para nós foi um enorme passo nas carreiras. Na época também houve o interesse do Beira Mar em nós os dois, mas o SC Braga era desportivamente um clube muito mais aliciante e foi assim que acabámos por ir os dois.




CC: Mas o Sérgio, não foi o primeiro da família a representar o SC Braga, pois não?

Sérgio Abreu: Não, é verdade. Tenho 5 irmãos (todos jogaram futebol sobretudo em França), mas antes de mim, o meu irmão Manuel Abreu jogou no SC Braga então treinado pelo Humberto Coelho e o Manuel José, depois de já ter ter feito carreira em clubes como: Reims, Paris Saint-Germain e Nancy. Lembro-me que estava no Fafe, nessa altura na 2ª divisão e íamos várias vezes a Braga fazer treinos de conjunto e jogar contra meu irmão. Na altura, muitos jogadores do Braga que jogavam com ele, mal sabiam, que  viriam a ser meus colegas e depois meus treinadores como por exemplo: Carvalhal, Toni, Artur, Vítor Santos, Hélder, etc...


CC: Em Braga, logo na primeira época, falha apenas um jogo do campeonato, apesar de os minhotos terem tido três treinadores nessa temporada. Apesar de tudo, foi uma época que lhe correu bem, certo?

Sérgio Abreu: Sim, começámos muito bem o campeonato sobre a batuta do “Mister” Carlos Garcia. Até à décima jornada, andámos nos primeiros lugares e depois chegou o jogo em casa, com o FC Porto, em que o Sr. Árbitro Fernando Correia, marca-me uma grande penalidade  inexistente (domino a bola com o peito), graças a Deus, o  Luís Manuel defendeu a grande penalidade, marcada pelo Semedo. Mas a partir dai, fomos muito prejudicados ao longo do campeonato, tivemos vários treinadores e também muitas dificuldades a nível financeiro, que só um grande presidente como Mesquita Machado, soube resolver e nos ajudar a acabar normalmente uma época, que podia e devia ter sido bem melhor.




CC: Nos “arsenalistas”, só na sua quarta época é que “faz o gosto ao pé” pela primeira vez. Mas mais uma vez, num jogo grande, no clássico do Minho frente ao Vitória de Guimarães. Aos 43 minutos, Sérgio abre o marcador da vitória por 3-1. Recorda-se desse golo?

Sérgio Abreu: Foi mais uma vez de canto e de cabeça. Antecipei-me ao central do Vitória (Matias) e fiz o 1-0. Na baliza estava o Neno. Lembro-me deste jogo por duas razões: Primeira, naquela altura o “Mister” Cajuda, na palestra e antevisão do jogo, tinha dito que o Vitória (que até ali só tinha vitórias e não sofria golos) só tinha esses parâmetros. porque não tinha jogado contra o Braga (que nessa altura em 4 jogos ainda não tínhamos ganho). Claro que nós, ficámos um pouco perplexos, mas era a forma dele nos motivar e tirar de nós, as nossas capacidades e em segundo lugar, sendo a minha esposa de Guimarães, podem imaginar, que nessa semana, as pessoas de lá, não me podiam ver a frente - risos.


CC: Segunda época comandado por Manuel Cajuda (1995/96), segunda época em que aponta 3 golos a contar para o campeonato, na sua carreira. Foi um treinador que o marcou?

Sérgio Abreu: Sim, foi um treinador que ajudou muito os jogadores e que começou na altura, o que veio a ser, o Braga de hoje. Lembro-me que ele apelidava-nos de “Loja dos 300” e que queria tornar o Braga no melhor clube do Minho, pois na altura o Vitória de Guimarães, era sem dúvida o melhor. Soube motivar-nos, fez com que os grupos de trabalhos, com poucas ambições, se tornassem mais competentes e mais profissionais e todas as épocas em que esteve no Braga, conseguimos aquilo que se propunha ou seja, cada época, fazer melhor que na anterior. Até que atingimos na sua terceira época, a melhor classificação de sempre (até à data) do SC Braga, um 4º lugar com acesso às competições europeias. Algo que o SC Braga, já não conseguia há muito tempo. Além de termos ficado à frente do grande rival no campeonato, o Vitória de Guimarães.




CC: Na época seguinte, o SC Braga faz a melhor época, das oito em que o Sérgio representou o clube, quando conseguiram um 4º lugar, com apenas os chamados “três grandes” a terminar à  vossa frente. Grande campeonato esse, não?

Sérgio Abreu: Sim, o melhor que fiz ao serviço do SC Braga e na minha carreira na 1ª divisão. Um 4º lugar e ficar à frente do Vitória de Guimarães e a qualificação para a Taça UEFA, algo que não acontecia há anos naquele clube e que era a realização do trabalho ardúo do grupo de trabalho. Sobretudo do objectivo que poucos de nós acreditávamos podermos atingir e que o “Mister” Cajuda nos tinha proposto, desde a primeira vez que entrou no balneário, no início dos seus três primeiros anos em Braga. Fez de nós, muito mais jogadores. 


CC: Vitória sobre o Sporting e empate contra o Benfica em Braga, o pior jogo terá mesmo sido, a derrota por 5-0 no Estádio das Antas e em que o Sérgio é expulso...

Sérgio Abreu: Sim, mas na altura lembro-me que era fácil ser expulso na casa dos grandes (eram e continuam a ser mais protegidos do que os outros clubes). Sei que fiz duas faltas sobre o Domingos e no meio da 2ª parte fui expulso, estava o FC Porto a ganhar 1-0. Mas isso, não retirou o brilhantismo dessa excelente época.




CC: No ano seguinte, o SC Braga regressa às competições europeias mais de uma década depois. Depois de eliminar o Vitesse e o Dínamo Tblisi, o SC Braga viria a “caír aos pés” dos alemães do Schalke 04. O Sérgio foi titular na 2ª mão, no jogo que ditou o afastamento dos bracarenses, na Alemanha. Lembra-se dessa partida?

Sérgio Abreu: Sim, até fui capitão nesse jogo. Vinha de uma paragem por lesão, o nosso treinador (Castro Santos), pediu-nos para jogarmos cara a cara com o Schalke (na altura detentor da Taça UEFA), jogámos bem, mas falhámos algumas oportunidades. O resultado ainda estava 0-0, quando o Zé Nuno foi expulso, depois disso, acabámos por perder 2-0. Lembro-me de no fim do jogo, ir trocar a minha camisola com o guarda-redes Lehmann (iria para o Arsenal mais tarde) para dar a sua camisola ao meu irmão Alberto, também ele guarda-redes (ainda hoje guarda essa recordação). Lembro-me que ele (Lehmann) ficou um pouco surpreendido, porque não era costume, pedir para trocar a camisola com um guarda-redes. Bons tempos.




CC: Mas nessa época, o Sérgio tem outro momento marcante na sua carreira, a sua primeira final da Taça de Portugal . O SC Braga perde 3-1 frente ao FC Porto, mas terá sido por certo, um momento marcante ter jogado aquela final no Jamor, não foi?

Sérgio Abreu: Até começámos mal essa aventura, pois tivemos quase a ir “borda fora” em Felgueiras, até o Baltazar fazer o golo do empate. Depois eliminámos nos Quartos-de-Final o Sporting, nas Meias-Finais o SL Benfica,  de Preud'homme e Poborsky (2-1), no estádio 1º de Maio como nunca tinha visto, completemente a abarrotar. Depois chegou a final no Jamor. Pisar aquele estádio mítico, numa final da Taça, é algo que nos marca. Lembro-me que entrámos muito receosos e cometemos alguns deslizes, o que nos custou dois golos. Ao intervalo, falámos e o grupo foi com outro espírito para a 2ª parte. Marcámos através do Sílvio e podíamos ter feito o empate, se o Senhor Árbitro, aquele “da azia” em Chaves (Jorge Coroado) tivesse marcado, uma grande penalidade, do Secretário sobre o Karoglan. Mas mesmo assim, podíamos ter chegado o empate, já em cima da hora, quando o Rui Correia vai buscar um cabeceamento meu, mesmo ao ângulo. Depois em contra-ataque, o Artur acabou  por matar o jogo, fazendo o 3-1. O FC Porto, acabaria por fazer a dobradinha nacional, e nós qualificámo-nos para aquilo, que viria a ser a última época da Taça dos Vencedores das Taças.




CC: Partimos agora para a sua última época no SC Braga (1998/99). Um nono lugar no campeonato e mais uma vez a marcar presença nas competições europeias, desta vez na Taça das Taças. Foi difícil despedir-se de um clube onde passou oito épocas da sua carreira?

Sérgio Abreu: Sim, lembro-me que falei com o “Mister” Cajuda, que tinha voltado na altura para Braga. Ele pediu-me que ficasse, fui falar com a administração do SC Braga, com o Presidente João Gomes, mas não chegámos a acordo de verbas e fui-me embora. É verdade que foi difícil sair, porque como disse na altura, oito anos não são oito dias, mas as pessoas não souberam reconhecer as nossas qualidades. Pensavam que já fazíamos parte da mobília (como se dizia na altura) e pensavam que nunca nos iríamos embora. Mas infelizmente, por causas menores, tive que deixar o SC Braga e seguir com a minha carreira nos Açores (Santa Clara).




CC: Despede-se de Braga, mas não da 1ª divisão, pois vai representar o recém primodivisionário Santa Clara. Como foi a experiência nos Açores e a sua última época na 1ª divisão?

Sérgio Abreu: Muito positiva. Apesar de ter de ter descido de divisão (era a primeira vez do Santa Clara no escalão maior), até Dezembro correu tudo bem. Tínhamos uma excelente equipa. Lembro-me que empatámos logo o primeiro jogo, em casa com o Sporting (2-2) com dois golos do meu amigo Gamboa, fomos ganhar ao Rio Ave, a Alverca, empatámos na Madeira com o Marítimo, em Faro, perdemos no Porto (1-0) e em casa com o Benfica (3-1). Só que depois o clube em Dezembro vendeu o Clayton ao FC Porto e como a nossa equipa (treinada pelo Manuel Fernandes) estava habituada a jogar em contra-ataque e ele era a referência na frente, a partir de Dezembro começámos a jogar de modo diferente. Tivemos muitas dificuldades em nos adaptar a outro estilo de jogo, as lesões também foram muitas em jogadores chave e acabámos por descer no último jogo com o Vitória, porque o Gil Vicente, também acabou por ganhar. Daquela época, guardo o calor humano das pessoas daquela ilha. São pessoas que merecem ter um clube na 1ª divisão.




CC: Está apenas uma época nos Açores, mudando-se na época seguinte para Chaves. Os flavienses fazem uma época muito aquém do esperado com um 12º lugar na Divisão de Honra. Como foi regressar ao 2º escalão, mais de uma década depois?

Sérgio Abreu: Foi difícil. O treinador Dito e a direcção do GD Chaves, tinham feito uma equipa boa para podermos acalentar a subida, com jogadores de 1ª divisão. Muitos não se adaptaram a uma maneira diferente de jogar. A Divisão de Honra na altura, era mais física que a primeira, os resultados não apareciam, os treinadores foram sendo despedidos (Dito, o malogrado Jesus e António Borges) e acabámos por safar o clube da descida, a duas jornadas do fim em Freamunde. Mas foi uma época que não deixou grandes saudades, também devido a vários problemas físicos.


CC: Mais uma época, nova mudança, próxima paragem o Freamunde, agora na 2ª Divisão B. Como foi a essa experiência na 3ª divisão nacional?

Sérgio Abreu: Foi boa, conseguimos o objectivos do Freamunde, que tinha descido da Divisão de Honra e que passava por uma enorme dificuldade financeira. Ficámos na 2ª divisão B e sem dividas agravadas.




CC: Mas mais uma vez, ficou apenas uma época e voltou a “mudar de ares”. Em 2001/02 vai representar o Leixões. Como foi reencontrar o seu antigo companheiro Carlos Carvalhal, mas agora como seu treinador?

Sérgio Abreu: Ele foi meu colega na primeira época em Braga e tinha jogado com o meu irmão. Quando estava no Santa Clara, já me queria para o Freamunde na Divisão de Honra. Posso dizer que aprendi muito com ele e é até hoje, um dos treinadores que mais me marcou. Além disso, sua carreira fala por ele.


CC: Nessa época, o Sérgio faria parte de um feito extraordinário, quando o Leixões chegou até à final da Taça de Portugal e defrontou o já campeão nacional, Sporting. Como foi regressar pela 2ª vez a uma final no Jamor?

Sérgio Abreu: Lembro-me que não subimos de divisão (para a Honra) por nos termos deslumbrado com o feito da Taça, feito esse que ainda hoje perdura, como a única equipa da 2ª Divisão B, a chegar à Final da Taça em Portugal e por isso mesmo, jogar a Taça UEFA – duas eliminatórias, FK Belasica (Macedónia) e PAOK (Grécia).

Na final, jogámos mais uma vez contra o Campeão Nacional daquela época, o Sporting de Boloni e não fomos em nada inferiores. Até podíamos ter levado a final a prolongamento, mas aquela moldura humana do Leixões, no estádio Nacional, é algo que fica para sempre na nossa memória. A final e o jogo das meias-finais em Braga que ganhámos 3-1, quando toda a gente do futebol já dava o Braga na final. Grande equipa que tínhamos nessa altura, com jogadores de 1ª divisão como o: Ferreira, Abílio, Besirovic, Antchouet, Pedras, Nuno Silva, Detinho, Nené, entre outros.




CC: Estaria mais uma época em Matosinhos, a seguinte (2003/04) em Felgueiras, até acabar no FC Lixa. Como foi despedir-se da carreira de futebolista, quase vinte anos depois, da primeira época como senior em Fafe?

Sérgio Abreu: Foi difícil, mas como tudo na vida, tem um fim e o corpo com 37 anos, perto dos 38, já tinha dificuldades em responder às exigências da competição (muitos problemas musculares) e como a direcção do Lixa, pediu-me para assumir o cargo de treinador, decidi pôr termo à minha carreira de futebolista.




CC: Sérgio Abreu, o “Cromo dos Cromos” continua a teimar em manter viva a memória de todos aqueles que fizeram o nosso futebol, através da “colagem de cromos”. Que pensa no geral sobre este nosso projecto?

Sérgio Abreu: Excelente! Porque através de vocês e deste vosso blogue, podemos ter a visão de muitos jogadores que não atingiram o estrelato, mas que tiveram carreira bonitas e que, também fazem parte, à sua maneira, da vida dos clubes e do futebol português. Esta também é uma maneira de serem recordados por aqueles que nos assobiavam e aplaudiram e que por diferentes motivos nos deixaram de ver. Além de ser uma forma, dos adeptos também saberem mais sobre nós.


CC: Para finalizar e, agradecendo mais uma vez toda a sua disponibilidade. Pode deixar umas palavras, para todos aqueles que habitualmente visitam este blogue?

Sérgio Abreu: Que continuem a visitar este blogue (eu serei a partir de agora mais um, a vir cá todos os dias) e parabéns pela vossa iniciativa, que me permitiu rever cromos que não tinha e poder partilhar com vocês e os amigos que visitam este blogue, algumas histórias que fizeram esta minha modesta carreira. Abraço deste vosso amigo para sempre, Sérgio Abreu.



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Entrevista: João Brites.
Texto: João Brites.
Agradecimentos: Sérgio Abreu.






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